História da fundação

A minha vocação

Gostei muito do escutismo católico, fundado em França sobretudo pelo Padre Sevin, um jesuíta. Depois de ter pensado muito em ser pai, fui cativado pelo Evangelho e disse "sim" a Nosso Senhor para ser padre, não um padre diocesano, mas um padre com espírito religioso, como São Francisco de Assis ou São Francisco Xavier (Outubro de 1930). Em 1931, o Padre Sevin escreveu artigos sobre a "Ordem dos Escuteiros" na revista "Le Chef". Explicava como o espírito escoteiro estava aberto à prática dos votos de pobreza, castidade e obediência e ao espírito de educação dos jovens, à educação humana, à formação do carácter, ao espírito de doação para "servir e salvar o próximo" (cf. lei dos escuteiros), com novos métodos ativos visando desenvolver toda a personalidade humana para o serviço humano e espiritual, com a graça de Deus. Gostei muito.

 Escrevi ao Padre Sevin e ele aconselhou-me, uma vez que queria ser padre, a ir ao seminário de Paris em Issy-les-Moulineaux e a pedir a direção espiritual de Marc Lallier, seu colaborador na formação de chefes escuteiros em França, que se tinha tornado padre e professor no seminário. Marc Lallier também queria fundar uma "Ordem dos Escuteiros". Mas o Padre Lallier disse-me que era preciso esperar, porque ele não via a possibilidade de realizar este projeto imediatamente. Foi assim que mais tarde se tornou bispo de Nancy, depois de Marselha, depois de Besançon.
Nada feito, após o serviço militar e a guerra, fui ordenado sacerdote em Viviers a 29 de junho de 1941. Nomeado coadjutor em Notre-Dame d'Annonay, entrei em contacto com algumas jovens que sentiam o apelo de Deus à vida religiosa.

A primeira Equipa

Estas jovens de Annonay não se sentiam atraídas por nenhuma comunidade religiosa existente e Augusta Bernard, que tinha 37 anos, tinha sido recusada na comunidade do Cenáculo devido à sua saúde precária. Pensei então em falar-lhes das minhas próprias esperanças e desejos de uma nova comunidade, tanto no espírito de uma Ordem de Escuteiros, enriquecida pelas suas próprias experiências de participação em "movimentos especializados de Ação Católica", como no espírito das Irmãzinhas do Padre de Foucauld.

Formámos então uma "Equipa", a que chamámos "de Nossa Senhora das Neves", porque vários sinais nos tinham levado a pensar que a Santíssima Virgem ficaria feliz por ser chamada assim, ela, a Virgem Imaculada, fazendo esta Equipa uma primeira formação preparatória da Comunidade religiosa desejada.

Pediram-me que assumisse a responsabilidade desta fundação, pois estavam muito decididos a viver o que eu lhes tinha explicado. Depois de um contacto longo e muito encorajador com Marthe Robin, aceitei esta responsabilidade na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro de 1946.

Saint-Pierre-de-Colombier

Em Fevereiro de 1946, fui nomeado pároco de Saint-Pierre-de-Colombier. Os primeiros contactos entre os membros da Equipa e Monsenhor Couderc, bispo de Viviers, não foram encorajadores e, sobretudo, quando manifestaram o desejo de iniciar a sua vida em comum em Saint-Pierre-de-Colombier sob a minha direção, ele disse um categórico "não! Mas Marthe encorajou fortemente Augusta Bernard, dizendo-lhe que o nosso bispo aceitaria no momento oportuno. Em Saint-Pierre, erguemos na colina uma grande estátua, à maneira da "Medalha Milagrosa", a que chamámos a estátua de Nossa Senhora das Neves. O nosso bispo, convidado a abençoá-la, veio na oitava da Imaculada Conceição, a 15 de Dezembro de 1946. Após a bênção, encorajou a Equipa a vir para Saint-Pierre. A Equipa completou a sua formação catequética em Lyon e, a 31 de Maio de 1947, instalou-se em Saint-Pierre-de-Colombier.

Primeiros desenvolvimentos

Na vida de Saint-Pierre, a "Chefe de Equipa" tornou-se rapidamente a "Mãe" da "Família", a Família "Domini" ("do Senhor"), vivendo num "Lar" e em contacto com a população para serviços, cuidados, e especialmente com as jovens que trabalham nas fábricas de seda, "moulinages", onde alguns membros da nossa Equipa também trabalham para ganhar o sustento da família. Todos os dias, todos os membros da Família participam na minha Missa, rezam o Ofício Divino, rezam o terço e fazem adoração ao Santíssimo Sacramento. Aos domingos, participam frequentemente em encontros de raparigas, no local ou nos arredores, e em atividades paroquiais, por exemplo, realizando sessões recreativas com outras raparigas.

Lar em Privas

Em 1953, com a autorização de Monsenhor Couderc e a boa acolhida do Padre Briand, pároco de Privas, criámos um segundo Lar, muito próximo da igreja. Os membros da nossa Família Domini estão envolvidos nas atividades paroquiais, especialmente no ensino do catecismo na paróquia e no colégio, e prestam ajuda prática às mães sobrecarregadas, fazendo o trabalho doméstico, especialmente a lavagem pesada, sem máquina de lavar. Elas exercem uma influência humana e espiritual sobre as mães.

A Regra

Monsenhor Couderc pede-nos uma Regra de Comunidade religiosa. Providencialmente, eu estava gravemente doente com tuberculose. Foi por isso que recebi a ordem do nosso Bispo para ser hospitalizado no sanatório do clero e dos religiosos em Thorenc, perto de Grasse, no início de Junho de 1955. Ajudado pelos conselhos dos religiosos doentes que partilhavam comigo as suas Regras ou Constituições, escrevi uma Regra para a nossa Comunidade. Passados seis meses, já não contagiado, regressei a Saint-Pierre e entreguei uma cópia desta Regra a Monsenhor Couderc. Ele ficou contente e satisfeito.

Bairro operário de Saint-Montan

Sua Excelência quis que nos mudássemos para o "Bairro operário", criada entre Saint-Montan e Viviers, para os trabalhadores que construíam a barragem do Ródano. Arranjou-nos uma casa pobre. Havia uma capela, mas não havia padre. Havia cerca de duzentas crianças na escola. Foi então criado um terceiro Lar no "Bairro", que era muito cosmopolita: atividade social e religiosa, muito "missionária". Monsenhor Couderc ficou encantado.

Bispo Hermil

Depois do Concílio, D. Couderc, já velho e cansado, foi substituído em Viviers por D. Hermil, em Janeiro de 1966. Pediu-nos que esclarecêssemos o nosso estatuto religioso com a ajuda de um canonista. Como as nossas Irmãs estavam vestidas de leigas, disse-nos que tínhamos agora de escolher entre um instituto secular, cujos membros vivem sozinhos, como leigos no mundo, sem qualquer sinal religioso, ou um instituto religioso com traje, vida comum e votos na presença dos fiéis. Comprometemo-nos a viver juntos. Até agora, os compromissos eram recebidos todos os anos pela "Mãe" da família e por mim, sem votos perpétuos e sem a presença de outras pessoas. As nossas Irmãs adoptam um traje muito simples: uma túnica branca para as cerimónias litúrgicas com um véu branco, e um véu simples azul-marinho fora da liturgia. Entretanto, a 25 de Novembro, Monsenhor Hermil instituiu a Comunidade como "Pia União" sob o título "Instituto dos Missionários de Nossa Senhora das Neves". O novo ritual dos compromissos religiosos foi publicado em 1971. Utilizámo-lo pela primeira vez para os votos perpétuos na presença dos fiéis, na igreja de Saint-Pierre, a 10 de Setembro de 1972, para as nossas Irmãs.

Os Irmãos

Durante muito tempo, os rapazes quiseram vir para Saint-Pierre-de-Colombier para se tornarem "Irmãos" Domini da comunidade missionária de Nossa Senhora das Neves. Isso não tinha sido aceite. Em 1975, quando alguns deles se apresentaram, o Bispo Hermil aceitou. Em 1984, estavam prontos para fazer os votos perpétuos. Como eu era simples membro emprestado da diocese, enquanto responsável ( Pai) pela Comunidade perante o Bispo, perguntei a Monsenhor Hermil se ele próprio estaria disposto a receber os meus votos perpétuos com os dos primeiros Irmãos. Ele aceitou prontamente e veio a Saint Pierre para os receber, diante das Irmãs e dos fiéis, a 1 de Julho de 1984. Tornei-me assim membro da Comunidade.

Fundação dos primeiros Lares fora da diocese de Viviers

Em 1979, fundámos um "Lar" em Lyon, com o acordo do Cardeal Renard.
Em 1980, fundámos um "Lar" em Marselha, com o acordo do Cardeal Etchegarray.
Em 1984, fundámos um "Lar" na Bretanha, em Grand-Fougeray, na diocese de Rennes, com o acordo do Cardeal Gouyon.
Em 1988, fundámos um "Lar" na Alsácia, em Sélestat, com o acordo de Monsenhor Brand, que pediu um padre.
Em 1996, fundámos um "Lar" em Trans, no Var, com o acordo de Monsenhor Madec, bispo de Toulon.

 A liturgia

Nestes anos do Concílio e do seu rescaldo, comprometemo-nos a pô-lo em prática, nomeadamente no que diz respeito à liturgia, à medida que Roma publica os decretos de aplicação. Cantamos o Ofício Divino em francês. Celebramos a missa geralmente em francês e sempre com a maior dignidade e beleza, e com a maior participação possível dos fiéis.

A formação

Para aqueles que compreendem o apelo de Jesus, os primeiros anos da sua presença são essencialmente consagrados à formação. Durante pelo menos três anos (postulantado e noviciado), para além da formação na prática da Regra, praticamos todas as tarefas domésticas e desenvolvemos o nosso conhecimento da Doutrina e da Sagrada Escritura. Para alguns Irmãos e Irmãs, este é também um tempo de estudo filosófico, inicialmente com a ajuda de um professor assuncionista. Para os Irmãos que sentimos que podem preparar-se para o sacerdócio, começam os cursos nas Universidades de Roma ou de França.

 Primeiras ordenações

Quando estão prontos, depois do diaconato, são ordenados sacerdotes na nossa igreja de Saint-Pierre-de-Colombier pelo bispo Hermil ou pelo seu delegado.

Atividades

Em aplicação do nosso carisma de educação humana e sobretudo espiritual, desenvolvem-se atividades apostólicas: catequese, retiros segundo os Exercícios de Santo Inácio, em Saint-Pierre, Le Grand-Fougeray e Sélestat, recoleções para lares ou adolescentes, colónias de férias, domingos de reunião para os nossos amigos, peregrinações, etc.!

Processos de ereção canónica e ereção da Associação dos fiéis de Cristo

Em 1991, Monsenhor Hermil quis que a nossa Comunidade fosse constituída como Congregação religiosa com o acordo de Roma. Contactou a Congregação dos Religiosos em Roma. Aí encontrou o Padre Jean Bonfils, um dos seus membros. Foram tomadas medidas, mas Roma respondeu-lhe: "Para o ramo feminino, é possível, mas não para o ramo masculino: é preciso esperar que haja mais membros". O Padre Bonfils é nomeado Bispo de Viviers. Tomou posse da sua sede a 28 de Novembro de 1992. A resposta de Roma fez-nos compreender que a ereção canónica como Congregação religiosa exigiria que aquilo a que chamávamos os "ramos" masculino e feminino fossem totalmente separados, com superiores e membros muito independentes. Para nós, que somos uma "Família", constituída por Irmãos e Irmãs, isso era impensável. Monsenhor Bonfils, perante esta situação, pensou que a única solução de momento era que a nossa "Família Missionária de Nossa Senhora das Neves" se constituísse como uma "Associação Pública dos Fiéis de Cristo", que poderia ter como Superiores um "Moderador" e uma "Moderadora", em grande colaboração entre si. Com a ajuda de um canonista, foram redigidos "Estatutos", especificando que todos os membros faziam os votos evangélicos e observavam uma "Regra".

Ereção como instituto de vida consagrada

Não era claro, e era bastante ambíguo, qual era a nossa posição. Monsenhor Bonfils, ao estudar o Código de Direito Canónico em vigor, pensou que podíamos ser uma "nova forma de vida consagrada" e começou a dar passos nesse sentido. Uma vez dados estes passos e quase terminada a redação das "Constituições", foi nomeado bispo de Nice e deixou Viviers em Agosto de 1998. Esperámos muito tempo pelo seu sucessor. Finalmente, D. François Blondel foi nomeado e ordenado bispo em Viviers a 9 de Janeiro de 2000. Não perdeu tempo a substituir Monsenhor Bonfils. Finalmente, a 8 de Julho de 2000, recebeu o parecer favorável do Vaticano para poder assinar o decreto de criação da "Família Missionária de Nossa Senhora" como "Instituto de vida consagrada de direito diocesano". Assim o fez a 1 de Outubro de 2000, precisando que o decreto entraria em vigor a 7 de Outubro, festa de Nossa Senhora do Rosário.

Clarificação do nosso nome

Porque é que o "das Neves" foi retirado do nome? Porque Roma considera que duas comunidades religiosas da mesma diocese não devem ter nomes demasiado semelhantes. Como existe o "Mosteiro Cisterciense de Nossa Senhora das Neves", foi necessário suprimir o "das Neves" do nosso nome oficial. Isto não nos impede de ter uma grande devoção a Nossa Senhora das Neves, a Virgem Imaculada, a "primeira da cordada", que nos ajuda poderosamente na subida e na busca da perfeição do amor até ao Céu. Festejá-la-emos sempre de um modo especial.

Estamos muito gratos à Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana que, segundo as palavras do seu instrumento, Monsenhor Blondel, nos fez fazer parte da "grande família dos Institutos de Vida Consagrada".

Pai Lucien-Marie