Uma nova criação
Homilia de Bento XVI para a Vigília Pascal, 7 de abril de 2012
A Páscoa é o dia de uma nova criação, e é por isso que neste dia a Igreja começa a liturgia com a antiga criação, para que possamos aprender a compreender a nova. É por isso que, no início da Liturgia da Palavra, durante a Vigília Pascal, há o relato da criação do mundo. [...]
Em segundo lugar [...], na narração da criação, a Igreja escuta sobretudo a primeira frase: "Deus disse: "Faça-se a luz"" (Gn 1, 3). O relato da criação começa simbolicamente com a criação da luz. [...]
O que é que a história da criação quer dizer com isto? A luz torna a vida possível. [...] Torna possível o conhecimento, o acesso à realidade e à verdade. E, ao tornar possível o conhecimento, torna possível a liberdade e o progresso. O mal esconde-se. A luz, portanto, é também uma expressão do bem que é luminosidade e cria luminosidade [...].
Na Páscoa, na manhã do primeiro dia da semana, Deus disse mais uma vez: "Faça-se a luz". Anteriormente, tinha havido a noite do Monte das Oliveiras, o eclipse solar da paixão e morte de Jesus, a noite do túmulo. Mas agora é de novo o primeiro dia - a criação começa de novo, inteiramente nova. "Faça-se a luz", diz Deus, "e fez-se a luz". Jesus levanta-se do túmulo. A vida é mais forte do que a morte. O bem é mais forte do que o mal. O amor é mais forte do que o ódio. A verdade é mais forte do que a mentira [...]. Mas como é que tudo isto pode acontecer? Como é que tudo isto pode chegar até nós de tal forma que não fique apenas numa palavra, mas se torne uma realidade na qual estamos envolvidos? Através do sacramento do Batismo e da profissão de fé, o Senhor construiu uma ponte até nós, através da qual o novo dia chega até nós. [...]
Por fim, gostaria de acrescentar uma outra reflexão sobre a luz e a iluminação. Durante a Vigília Pascal, a noite da nova criação, a Igreja apresenta o mistério da luz com um símbolo muito especial e humilde: o círio pascal. É uma luz que vive em virtude do sacrifício. O círio ilumina-se consumindo-se a si mesmo. [...] Representa, assim, de modo maravilhoso, o mistério pascal de Cristo que se dá a si mesmo e, portanto, dá a grande luz [...].