In Altum

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Implantes cerebrais

Publicado a na secção (In Altum n° 159)

Rumo a uma (boa) revolução?

 

Em 30 de Janeiro deste ano, o mundo inteiro descobriu, com admiração e espanto, que a primeira operação de instalação de um chip Neuralink tinha sido concluída com êxito.

Do tamanho de algumas moedas de dois euros empilhadas, o implante da empresa de Elon Musk parece prometedor.

Já testado em vários animais, incluindo um macaco, permitiu a este último jogar o jogo de vídeo "Pong" utilizando apenas a sua atividade cerebral. Para além do aspeto lúdico, segundo o responsável da empresa americana, este implante permitirá, a prazo, controlar toda uma série de aparelhos através do pensamento, dando às pessoas com deficiência um certo grau de autonomia.

No entanto, este não é o primeiro passo da história neste domínio. No final do século XVIII, Luigi Galvani demonstrou que a atividade nervosa é eléctrica. Por volta de 1850, um certo Eduard Hitzig realizou experiências com soldados cujos crânios tinham sido fracturados por balas, observando que uma corrente eléctrica que atravessava o cérebro provocava movimentos involuntários nos músculos. Nos anos 50, um homem chamado José Delgado efectuou grandes investigações sobre cérebros de animais. Conseguiu, nomeadamente, fazer um gato levantar a pata ou controlar à distância certos movimentos de um touro. Entre 1970 e 2000, foram efectuadas várias experiências e descobertas sobre o cérebro dos animais. Os investigadores descobriram como "descodificar" a atividade neuronal, o que permitiu reproduzir as imagens vistas pelos gatos, ou os movimentos de um macaco, utilizando um braço robótico articulado. Mas o primeiro homem a utilizar uma interface neural direta para recuperar uma faculdade perdida foi Matthew Nagle. Aos vinte e dois anos, ficou tetraplégico na sequência de um ataque de faca quando tentava ajudar um amigo. Em 22 de Junho de 2004, foi-lhe colocado um implante na superfície do cérebro. O dispositivo está ligado a um computador externo. Este interpreta os sinais enviados pelo implante, tornando possível um grande número de operações, como ler e-mails, controlar o cursor do rato, o comando da televisão, etc.

Atualmente, a ciência continua a sua investigação e os resultados são já impressionantes. Os médicos suíços conseguiram que Gert-Jan Oskam, paraplégico na sequência de um acidente de bicicleta, voltasse a utilizar as suas pernas. O seu implante envia sinais a um computador que, por sua vez, transmite a informação a um implante localizado na espinal medula, comandando assim as suas pernas para que executem o movimento pensado por Gert-Jan. Um sistema semelhante permitiu também que uma mulher cega voltasse a "ver".

Estas tecnologias são prodigiosas quando têm por objetivo curar ou recuperar uma faculdade perdida. Mas é preciso prudência quando nos permitem ultrapassar os limites inerentes à nossa natureza (visão nocturna, desempenho desportivo e intelectual). Quando a tecnologia elimina a necessidade de o homem se ultrapassar a si próprio, comporta também o risco de o escravizar. A ciência é cumulativa, a sabedoria não.

Fotos: ©UC San Diego Jacobs School of Engineering - Flickr ; ©Steve Jurvetson - Flickr

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