A crise do Magistério
No seu discurso em Roma, a 26 de Outubro, o Cardeal Sarah (ao lado) afirmou que a crise da Igreja tinha entrado numa nova fase: a do Magistério.
Nas palavras do prelado guineense, "reina atualmente uma verdadeira cacofonia no ensino dos pastores. Muitos bispos defendem hoje as suas opiniões pessoais em alto e bom som "como se fossem uma certeza". A consequência desta cacofonia não é outra senão "a confusão, a ambiguidade e a apostasia. Uma grande desorientação e incertezas devastadoras foram inoculadas na alma de muitos crentes cristãos".
No entanto, o Cardeal Sarah observou com muita propriedade:
"Quando falamos de uma crise na Igreja, é importante deixar claro que a Igreja, como corpo místico de Cristo, continua a ser "una, santa, católica e apostólica". A Igreja, como continuação e extensão de Cristo no mundo, não está em crise. Somos nós, os seus filhos pecadores, que estamos em crise."
Confirmando o diagnóstico do cardeal Sarah, o Dicastério para a Doutrina da Fé publicou uma nota em resposta a uma carta enviada ao Vaticano, a 14 de Julho, por D. José Negri, bispo de Santo Amaro, sobre "algumas questões relativas à possível participação nos sacramentos do batismo e do matrimónio por parte de transexuais e pessoas homo-afectivas". Neste texto, publicado a 8 de Novembro e dirigido pelo cardeal Victor Manuel Fernandez (foto), o documento afirma que uma pessoa transexual pode receber o sacramento do batismo, nas mesmas condições que os outros fiéis, se não houver situações que possam causar escândalo público ou confundir os fiéis, e que pode também tornar-se padrinho de batismo. Na mesma nota, o Dicastério para a Doutrina da Fé abre a possibilidade de batismo às crianças nascidas de maternidade de substituição, bem como às adoptadas por um casal homossexual.
Para D. Philippe Bordeyne, presidente do Instituto Pontifício João Paulo II para as Ciências da Família e do Matrimónio, estas aberturas baseiam-se em "raciocínios muito clássicos (escolásticos)", aplicando-os a novos casos. Para o Cardeal Müller, pelo contrário, as possibilidades abertas pelo dicastério são contrárias à moral tradicional e parecem legitimar "a coexistência do pecado e da graça na Igreja de Deus".
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