In Altum

Nossa Senhora das Neves, formai os nossos corações à vossa imagem

Que tipo de ecologia para o homem?

Publicado a na secção (In Altum n° 155)

Extractos do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (art. 461 a 487)

Partindo do pressuposto errado de que existe uma quantidade ilimitada de energia e de recursos a utilizar, de que estes podem ser regenerados imediatamente e de que os efeitos negativos da manipulação da ordem natural podem ser facilmente absorvidos, difundiu-se uma conceção redutora que lê o mundo natural em termos mecânicos e o desenvolvimento em termos de consumo; o primado atribuído ao fazer e ao ter em vez do ser conduz a graves formas de alienação humana. [...]

Tal atitude não deriva da investigação científica e tecnológica, mas de uma ideologia cientificista e tecnocrática que tende a condicioná-la. A ciência e a técnica, com o seu progresso, não eliminam a necessidade de transcendência e não são, em si mesmas, a causa da secularização exasperada que conduz ao niilismo; à medida que avançam, levantam questões sobre o seu significado e aumentam a necessidade de respeitar a dimensão transcendente da pessoa humana e da própria criação.

Uma conceção correcta do ambiente não pode, por um lado, reduzir a natureza de forma utilitarista a um simples objeto de manipulação e exploração, e não deve, por outro lado, absolutizá-la e fazê-la prevalecer sobre a pessoa humana em termos de dignidade. Neste último caso, acaba-se por divinizar a natureza ou a terra, como se pode ver facilmente em certos movimentos ecológicos que pedem que os seus conceitos sejam dotados de um aspeto institucional garantido internacionalmente. [...]

 O Magistério justificou a sua oposição a uma conceção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, porque esta propõe eliminar a diferença ontológica e axiológica entre o homem e os outros seres vivos, considerando a biosfera como uma unidade biótica de valor indiferenciado. Elimina-se assim a responsabilidade superior do homem em favor de uma consideração igualitária da "dignidade" de todos os seres vivos. [...]

Uma visão do homem e das coisas sem qualquer referência ao transcendente levou à refutação do conceito de criação e à atribuição ao homem e à natureza de uma existência completamente autónoma. O elo que une o mundo a Deus foi assim quebrado: esta rutura acabou por desenraizar o homem da terra e, mais fundamentalmente, empobreceu a sua própria identidade. O ser humano passou a ver-se como um estranho ao meio em que vive. [...] A profunda ligação entre ecologia ambiental e "ecologia humana" precisa de ser evidenciada com maior clareza. [...]

A visão cristã da criação inclui um juízo positivo sobre a legalidade da intervenção humana na natureza, incluindo a dos outros seres vivos, e, ao mesmo tempo, uma forte chamada de atenção para o nosso sentido de responsabilidade. A natureza não é uma realidade sagrada ou divina, subtraída à ação humana. Pelo contrário, é um dom oferecido pelo Criador à comunidade humana, um dom confiado à inteligência e à responsabilidade moral do homem. É por isso que o homem não comete um ato ilícito quando, respeitando a ordem, a beleza e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema, intervém modificando algumas das suas características e propriedades. As intervenções do homem são censuráveis quando prejudicam os seres vivos ou o ambiente natural, ao passo que são louváveis quando resultam na sua melhoria. A legalidade da utilização de técnicas biológicas e biogenéticas não esgota toda a questão ética: como em qualquer comportamento humano, é necessário avaliar cuidadosamente a sua utilidade real, bem como as suas possíveis consequências, também em termos de riscos. No contexto das intervenções técnicas e científicas, que têm um impacto forte e vasto nos organismos vivos, e dada a possibilidade de repercussões significativas a longo prazo, não é lícito atuar de forma leviana ou irresponsável. [...]

 Os responsáveis pela informação têm também uma tarefa importante, que deve ser desempenhada com cuidado e objetividade. A sociedade espera que eles forneçam informações completas e objetivas que ajudem as pessoas a formar uma opinião correta sobre os produtos biotecnológicos, especialmente porque se trata de algo que lhes diz respeito pessoalmente como potenciais consumidores. Por conseguinte, há que evitar ceder à tentação de fornecer informações superficiais, alimentadas por um entusiasmo fácil ou por um alarmismo injustificado. [...]

A atitude que deve caraterizar o homem perante a criação é essencialmente de gratidão e de reconhecimento: o mundo, de facto, remete para o mistério de Deus que o criou e o sustenta. Colocar entre parêntesis a relação com Deus equivale a esvaziar a natureza do seu significado mais profundo, empobrecendo-a. Se, pelo contrário, conseguirmos redescobrir a natureza na sua dimensão de criatura, podemos estabelecer uma relação de comunicação com ela, captar o seu significado evocativo e simbólico e, assim, penetrar no horizonte do mistério que abre ao homem o caminho para Deus, Criador do céu e da terra. O mundo oferece-se ao olhar do homem como um vestígio de Deus, um lugar onde se revela o seu poder criador, providencial e redentor.

              _______________________________________________________________________________________

A frase:

   "Compreendemos melhor a importância e o significado de qualquer criatura

    se a contemplarmos no contexto do projeto de Deus como um todo."

Papa Francisco

O que você quer fazer?