Halloween ou Dia de Todos os Santos?
Para nós, católicos, Novembro é tradicionalmente o mês em que pregamos sobre os últimos dias, mas temos de admitir que este aspeto religioso tende a ser suplantado pela festa pagã do Dia das Bruxas (Halloween), que celebra a morte com bruxas, demónios e outros monstros de uma imaginação sombria.
Situado na véspera da festa de Todos os Santos, o Halloween toma o seu nome da contração de "All Hallow Eve", o que significa "Véspera de Todos os Santos". As suas origens remontam a 2500 anos atrás, a um festival ritual irlandês-céltico chamado Samain, que celebrava a passagem da luminosidade do verão para a escuridão do inverno. Os Celtas acreditavam que, nesta ocasião, se abriam as fronteiras entre o mundo dos vivos e o dos mortos e que, vestindo trajes assustadores, afugentavam os maus espíritos. Ligada à lenda do Jack-O'lantern, esse bêbedo condenado a vaguear eternamente pela terra com um nabo oco como lanterna, a festa chegou aos Estados Unidos com os emigrantes do século XIX, onde teve um grande sucesso. Só nos anos 90 é que chegou a França.
A festa de Todos os Santos remonta ao século IV, quando se celebravam todos os mártires. Em 13 de Maio de 609, o Papa Bonifácio IV consagrou um antigo templo pagão dedicado a todos os deuses, que lhe tinha sido doado. O edifício tornou-se então Santa Maria dos Mártires e a sua consagração foi comemorada a 13 de Maio, a antiga data do Dia de Todos os Santos.
A Igreja sempre procurou inculturar o Evangelho, ou seja, transformar a cultura de um povo, enxertando nela a mensagem de Jesus, para a purificar, conservar o que tem de bom e rejeitar o que tem de mau. Esta é uma das razões pelas quais o Papa Gregório IV decidiu transferir a festa de Todos os Santos para o dia 1 de Novembro, oferecendo assim um substituto cristão à festa pagã de Samain. Ao fazê-lo, a Igreja facilitou o abandono das superstições por parte do povo. Atualmente, passa-se o contrário. O Dia de Todos os Santos é esquecido e o Halloween (Dia das Bruxas) goza de um sucesso sem precedentes, a tal ponto que muitos cristãos são tentados a juntar-se às festividades de 31 de Outubro. Afinal, será que uns doces e uns disfarces de bruxa podem fazer mal?
Na realidade, embora os cristãos não devam temer a morte, e muito menos negar a existência de demónios, não devem rir-se dela. Exaltar a morte e as trevas não eleva a alma. O Dia de Todos os Santos, pelo contrário, promove a alegria e a felicidade, e incentiva uma cultura da vida e da verdade, de acordo com o que é bom para a humanidade. Em suma, a questão é: porquê celebrar a morte quando podemos celebrar a vida? Porquê celebrar as trevas que conduzem à morte quando podemos celebrar a luz que conduz à verdadeira vida? A resposta é suficientemente óbvia para que não precisemos de a escrever aqui: este ano, vamos colocar as nossas velas nas nossas igrejas, não nas nossas abóboras.