Vamos obter indulgências para os nossos defuntos!
Como é que podemos obter indulgências para os nossos defuntos?
Com a nossa instrução de Novembro, exortamo-vos a obter indulgências parciais ou totais para os defuntos, a fim de apressar a sua entrada no Céu.
O que é uma indulgência?
O
diz-nos (n°1471-1479):
«A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições, pela ação da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos» (Paulo VI, Indulgentiarum doctrina)
«A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena temporal devida ao pecado» (ibid). «O fiel pode lucrar para si mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos».
As penas do pecado: Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso ver que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, por isso, torna-nos incapazes da vida eterna, privação a que se chama a "pena eterna" do pecado. Por outro lado, todo o pecado, mesmo venial, leva a um apego doentio às criaturas,
que precisa de ser purificado, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado conhecido como Purgatório. Esta purificação liberta-nos do que se chama "pena temporal" do pecado. Estas duas penas não devem ser vistas como uma espécie de vingança, infligida por Deus a partir do exterior, mas como decorrentes da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma caridade fervorosa pode purificar totalmente o pecador, de modo a que não reste nenhuma pena.
O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas as penas temporais do pecado permanecem. Suportando pacientemente os sofrimentos e as provações de todo o género e, quando chegar o dia, enfrentando a morte com serenidade, o cristão deve esforçar-se por acolher estas penas temporais do pecado como uma graça; deve esforçar-se, através das obras de misericórdia e de caridade, bem como da oração e das diversas práticas penitenciais, por se despojar completamente do "homem velho" e revestir-se do "homem novo" (cf. Ef 4, 24).
Na comunhão dos santos : O cristão que procura purificar-se do seu pecado e santificar-se com a ajuda da graça de Deus não se encontra sozinho. "A vida de cada um dos filhos de Deus está ligada de modo admirável, em Cristo e por Cristo, à vida de todos os outros irmãos cristãos, na unidade sobrenatural do Corpo Místico de Cristo, como numa pessoa mística".
Na comunhão dos santos, portanto, "existe entre os fiéis - os que estão na posse da pátria celeste, os que foram admitidos à expiação no purgatório ou os que ainda peregrinam na terra - um constante vínculo de amor e uma abundante troca de todos os bens". Neste admirável intercâmbio, a santidade de um beneficia os outros, muito para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Deste modo, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador contrito purificar-se mais cedo e mais eficazmente das penas do pecado.
Chamamos também a estes bens espirituais da comunhão dos santos o tesouro da Igreja, "que não é uma soma de bens, como as riquezas materiais acumuladas ao longo dos séculos, mas é o preço infinito e inesgotável que as expiações e os méritos de Cristo Nosso Senhor têm junto de Deus, oferecidos para que a humanidade seja libertada do pecado e alcance a comunhão com o Pai. É em Cristo, nosso Redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os méritos da sua redenção (cf. Heb 7, 23-25; 9, 11-28)".
Neste tesouro está também incluído o valor verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo, aos olhos de Deus, das orações e das boas obras da Bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos que se santificaram pela graça de Cristo, seguindo as suas pegadas, e fizeram uma obra agradável ao Pai, de modo que, trabalhando pela sua própria salvação, cooperaram também na salvação dos seus irmãos e irmãs na unidade do Corpo Místico.
Obter a indulgência de Deus através da Igreja: A indulgência obtém-se através da Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar que lhe foi concedido por Cristo Jesus, intervém em favor do cristão e abre-lhe o tesouro dos méritos do Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas pelos seus pecados. Deste modo, a Igreja não só quer vir em auxílio deste cristão, mas também encorajá-lo a praticar obras de piedade, penitência e caridade.
Uma vez que os fiéis defuntos que estão em processo de purificação são também membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los, entre outras coisas, obtendo-lhes indulgências, para que sejam absolvidos das penas temporais devidas pelos seus pecados.
Como obter a indulgência?
Para obter uma indulgência plenária, é necessário realizar a obra à qual a indulgência está associada e cumprir três condições:
- a confissão sacramental,
- a comunhão eucarística e
- a oração segundo as intenções do Sumo Pontífice
Estas três condições podem ser satisfeitas vários dias antes ou depois da execução da obra prescrita. No entanto, a comunhão e a oração segundo as intenções do Sumo Pontífice devem ter lugar no dia em que a obra é efetuada. Podem obter-se várias indulgências plenárias com uma só confissão sacramental; mas com uma só comunhão e uma só oração segundo as intenções do Sumo Pontífice, só se obtém uma indulgência plenária. A condição de rezar pelas intenções do Sumo Pontífice cumpre-se plenamente se se rezar um Pai-Nosso e uma Avé-Maria por sua intenção; mas cada fiel pode rezar tal ou tal outra oração, segundo a sua piedade e devoção para com o Romano Pontífice (em particular, o primeiro Pai-Nosso e as três primeiras Avé-Marias do nosso terço podem ser oferecidos com a intenção de obter a indulgência).
Além disso, deve ser excluído todo o apego ao pecado, mesmo venial.
Que obras estão ligadas às indulgências?
Muitas obras estão ligadas às indulgências: pode consultar as várias "concessões" no manual das indulgências. Eis alguns exemplo
- rezando pelos fiéis defuntos (concessão n°29)
Uma indulgência plenária, aplicável apenas às almas do Purgatório, é concedida ao fiel que:
1° visitar devotamente
o cemitério e rezar pelos defuntos, ainda que só mentalmente, entre os dias 1 e 8 de novembro.
2° no dia em que se celebra a comemoração de todos os fiéis defuntos (ou, com o consentimento do Ordinário, no domingo precedente ou seguinte, ou na solenidade do Dia de Todos os Santos), visitar devotamente uma igreja ou um oratório e aí recitar o Pai-Nosso e o Credo.
É concedida indulgência parcial, aplicável só às almas do Purgatório, ao fiel que
1° visitar devotamente um cemitério e rezar pelos defuntos, ainda que só mentalmente;
2° recitar devotamente as Laudes ou as Vésperas do Ofício dos Defuntos, ou a invocação Requiem aeternam.
Requiem aeternam: "Concedei, Senhor, o repouso eterno aos nossos irmãos defuntos; e que a luz perpétua brilhe nos seus olhos. Que eles descansem em paz. Amém" ou em latim: "Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiescant in pace. Amém".
- pela adoração eucarística (concessão n°7)
A indulgência plenária é concedida ao fiel que:
1° visitar o Santíssimo Sacramento para o adorar durante pelo menos meia hora;
A indulgência parcial é concedida ao fiel que:
1° visita o Santíssimo Sacramento para o adorar;
2° dirige uma oração legitimamente aprovada a Jesus no Santíssimo Sacramento da Eucaristia (por exemplo, o hino Adoro te devote, a oração O sacrum convivium, ou as estrofes do Tantum ergo).
- pela participação numa recoleção (concessão n°10)
A indulgência plenária é concedida ao fiel que:
dedicar pelo menos três dias inteiros aos exercícios espirituais.
A indulgência parcial é concedida ao fiel que:
participe numa recoleção mensal.
- pela oração à Virgem Maria (concessão n°17)
A indulgência plenária é concedida ao fiel que:
1° recitar devotamente o terço mariano numa igreja ou oratório, ou na família, numa comunidade religiosa, numa associação de fiéis e, em geral, quando várias pessoas se reúnem com um objetivo honesto;
2° participar devotamente na recitação desta oração pelo Sumo Pontífice, transmitida pela televisão ou pela rádio.
Noutros casos, a indulgência é parcial.
O Rosário é uma forma de oração em que a recitação de quinze Avé-Marias, intercaladas com o Pai-Nosso, é acompanhada de uma piedosa meditação sobre os mistérios da nossa redenção.
No que respeita à indulgência plenária ligada à recitação do Rosário Mariano, estabelece-se o seguinte
a) Basta recitar apenas um terço dele (= um terço); mas as cinco dezenas devem ser recitadas sem interrupção;
b) À oração vocal deve juntar-se uma piedosa meditação dos mistérios;
c) Na recitação pública, os mistérios devem ser recitados segundo o costume local aprovado; na recitação privada, basta que o fiel medite os mistérios para além da oração vocal.
A indulgência parcial é concedida ao fiel que:
1° recita com devoção o cântico do Magnificat ;
2° recita devotamente no início da manhã, ou ao meio-dia, ou à noite, a oração do Angelus Domini com os versos e a oração, ou recita durante o tempo pascal a antífona Regina caeli, com a oração habitual.
3° dirigir devotamente uma oração aprovada à Santíssima Virgem Maria (por exemplo, Maria, Mater gratiae; Lembrai-vos; Salve Regina; Santa Maria, socorrei os infelizes; Sub tuum praesidium).).
Angelus Domini :
V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria, R. E Ela concebeu pelo poder do Espírito Santo. Ave-Maria...
V. Eis aqui a Serva do senhor; R. Faça-se em mim segundo a vossa Palavra. Ave-Maria...
V. E o Verbo Divino encarnou. R. E habitou entre nós. Ave-Maria...
V. Rogai por nós santa Mãe de Deus. R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Oração. - Infundi, Senhor, em nossos corações a vossa graça, Vo-lo suplicamos, a fim de que, tendo conhecido pela Anunciação do Anjo a encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, pelos merecimentos da sua Paixão e Morte, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Por Cristo nosso Senhor. Amen.
- pela leitura e a meditação da Sagrada Escritura (concessão n°30)
A indulgência plenária é concedida ao fiel que lê a Sagrada Escritura, numa versão aprovada pela autoridade competente, com a reverência devida à palavra divina e em modo de leitura espiritual, durante pelo menos meia hora. Se o tempo for mais curto, a indulgência é parcial.
Se, por uma razão razoável, uma pessoa não puder ler, é concedida uma indulgência total ou parcial, como acima indicado, se ela ouvir o texto da Escritura lido por outra pessoa, ou através de instrumentos de "vídeo" ou "áudio".
Fontes
- constituição apostólica Indulgentiarum doctrina - Paul VI (1967)
- manual das indulgências : Enchiridion indulgentiarum (4e édition)
- Catecismo da Igreja Católica